Iniciei os artigos para o mês do Orgulho LGBTQIA+ (mês de junho), no artigo anterior “COMO SABER SE SOU MENINA? - Identidade de gênero e orientação sexual: qual a diferença? Parte 1”.
Aqui, quero listar algumas dicas para você que ainda não sabe se é hetero.
Quem tem não precisa de nada, porém, sempre quer mais ainda. Aí começam as dicas...Se você tem coisas, direitos, vida, e é vista como pessoa, provavelmente você deve ser heterossexual.
Se você não sabe que homossexuais conquistaram o “direito” de casar, você com certeza é hetero pois pasmem, muitos heterossexuais, muitos mesmos, não sabem que homossexuais podem se casar (caso estejam dispostos a brigar em alguns cartórios do país a fora).
Na verdade, tem gente na minha família que ainda não acredita que eu me casei e diz que o que eu tenho não é uma certidão de casamento e sim uma união estável.
Não, não é, mas eu não esfreguei a certidão na cara de ninguém para provar porque, eu não quis mesmo.
Não vou listar aqui um monte de estereótipos que você pode assistir num canal qualquer do youtube ou do TikTok daqueles com meninas de 17 anos determinando o que é ou não ser lésbica através de indicadores como: usar anel de côco e blusa xadrez. Não mesmo, vou poupar a mim e a você dessa experiência frugal e rasa.
Vou falar mesmo de privilégio, de invisibilidade, de silenciamento,de violência, de estupro corretivo, de medo de morrer. E aí vem outra: se você não faz ideia de porque vou falar disso ou você é homem, ou é branco ou é hetero ou os três.
Ou seja, além das questões que falei no texto anterior sobre a heterosexualidade presumida, a heterossexualidade compulsória, a suposta normalidade heterossexual te coloca numa bolha de direitos na qual você sempre esteve, o privilégio.
A minha adolescência nos portais da internet bem antes do Google existir, me ajudaram a entender o que significava sentir atrção por mulheres e eu não entendi que era lésbica através de comentários desastrosos sobre rebuceteio e enquetes de “ativa,passiva ou relativa”. Graças à deusa, Não. Entre os artigos de Vange Leonel, de Laura Bacellar e de outras pessoas sérias, engraçadas, mas sérias, com conteúdo sério, eu pude me revelar a mim mesma, ir me identificando em partes (já que não existia entendida preta na internet dos anos 1990).

Eu nunca estive protegida estatisticamente e nem na prática do feminicídio pois, enquanto mulheres brancas morreram aproximadamente 10% a menos na década passada, mulheres negras morreram mais de 50% a mais que na década anterior.
Enquanto lésbica, sáfica ou sapatão, tudo me coloca dentro dos índices e nada me deixa de fora das estatísticas de lesbocídio a não ser o milagre de ser uma preta sapatão e mãe solo que só por acaso ainda está viva.
A cada ano, viver e caminhar na rua, ir trabalhar ou passear com minhas filhas é uma vitória contra as estatísticas pois só pra você entender, 79% das mulheres lésbicas assassinadas em 2014, morreram em lugares públicos (Dossiê sobre Lesbocídio no Brasil-2017).
Na rua, num bar, numa estrada e ninguém impediu.
Ou seja, se você nunca leu ou ouviu a palavra lesbocídio e tá achando que fui eu que inventei, você deve ser hetero.
Você também deve ser hetero se você já caminhou na rua de mãos dadas com uma irmã ou uma amiga absolutamente despreocupada pois, se você não fosse hetero, pensaria dez vezes e olharia para os quatro cantos com medo de ser confundida com um casal de lésbicas e por conta disso levarem uma surra e/ou serem estupradas. Se você nunca temeu o estupro corretivo que só tem aumentado em número de denúcias entre 2010 e 2019, com certeza você deve ser hetero.
Se você é mulher, já sofreu ou conhece uma mulher que foi violentada, abusada, silenciada, discriminada e ladeira abaixo. Mas se você é mulher e já viveu tudo isso que eu falei ou se preocupou com algumas dessas coisas ou conhece alguém que passou por elas, provavelmente mana, provavelmente você não é heterossexual. Mas se é, na hora da luta, lembre-se de lutar por todas.
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