Como existir na mesma velocidade que os dados trafegam na internet? Como existir sem a aprovação da platéia virtual? Como andar de metrô sem ser molestada? Como provar o valor que temos sem nos sentirmos impostoras? Como sair de casa sem suar frio e ter taquicardia? Como acreditar que algo muito ruim não vai acontecer hoje?
É infinito o loop de possibilidades desastrosas e culpa na psique da mente ansiosa.
Freud catalogou a ansiedade em Ansiedade Realista, Ansiedade Moral e Ansiedade Neurótica. Vou ficar com Freud e explicar: a ansiedade é um estado de alerta, de preocupação e medo. A Ansiedade realista é quando temos medo de algo externo, é possível, coerente, verossímil, como ser punida por nossos pais por algo “errado” que realmente fizemos.

A ansiedade moral é um medo de ser punido pelo nosso desejo, pela nossa libido, não é racional e atende ao possível julgamento de seres intangíveis como deus, sociedade, e o universo.
A ansiedade neurótica é a ansiedade patológica que está inconsciente, é justamente a ansiedade que a psicanálise “trata” e trata muito bem diga-se de passagem com sua metodologia de acesso ao inconsciente pois, quando a pessoa ansiosa mergulha no poço do inconsciente, é relativamente fácil para um psicanalista entender que a ansiedade neurótica que aparentemente não tem sentido nem razão é na verdade uma ansiedade real, advinda de um trauma de infância por exemplo ou uma ansiedade moral, oriunda da libido reprimida. Quase sempre, as duas estão combinadas.
Freud identificou esse mecanismo ansioso há mais de 100 anos, porém, a Geração Z mergulhou de corpo inteiro nessa patologia ansiosa e nas patologias da ansiedade. Essas jovens moças e mulheres com menos de 35 anos em sua maioria, não estão em busca de preencher vazios na sua existência, elas têm causas definidas para defender, elas dizem que são empoderadas mas caem na repetição infinita do pensamento ansioso porque não dão conta de tantos estímulos e muito menos de “ser” tudo que acreditam que deveriam “ser” e de “fazer” tudo que acreditam que deveriam fazer. O século XX terminou com a psique adoecida pelo ter, ao se curar criou no século XXI uma geração perturbada pelas expectativas do fazer e do ser.
Quase todas as jovens mulheres da minha experiência clínica vivem o medo do fracasso do fazer e do ser, mas não de um fazer e ser reais, e sim o medo do que o mundo externo está acreditando que elas fazem e são. Sentem-se impostoras com medo de serem descobertas pelo mundo. A psicanálise cuida bem disso, obrigada há um século, porém, essas moças não desenvolveram uma habilidade fundamental para a psicoterapia analítica: a elaboração.
Ou seja, elas são incapazes ou têm uma dificuldade extrema de fazer uma coisa aparentemente simples: falar sobre si mesmas e não existe análise sem elaboração sem falar sobre si e cada vez mais, o exercício do terapeuta na clínica com jovens mulheres neuroticamente ansiosas aproxima-se da psicanálise infantil na medida que introduz cada vez mais âncoras concretas como desenhos e objetos para acessar o inconsciente e o subjetivo dessas moças que aprenderam a falar sobre tudo, menos sobre si mesmas.
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